sexta-feira, 23 de novembro de 2007



Não esperava ver Natalia Vodianova na capa da Egoiste. Na verdade não esperava ver Natalia de todo. Conhecemo-nos há três anos, em Marienbad o lugar mais extraordinariamente fantástico para se conhecer alguém para sempre e, em todo caso, desse que se conhece ficar-se a saber tão pouco. Visitava a Républica Checa a convite de um amigo que recebera em Lisboa a pedido de outro amigo. Viajava com pouco dinheiro, alguns cigarros e dois livros - escolhidos por um momento mais do que por um critério - "A Rosa é sem porquê" do Angelus Silesius e o "Anti-Édipo" do Deleuze e do Guattari. Na noite em que nos conhecemos não dormimos e, já de madrugada, apeteceu-nos apanhar o combóio para Brno; na segunda noite dormimos juntos; na terceira noite desencontramo-nos (desencontramo-nos?) perto da "Shlazar" - chovia na terra e o céu estrelado. Não voltei a ver Natalia até ontem, em que não a vi mas ela surgiu-me imóvel, longinqua, na capa de uma revista ("Songs without words" do John Cale era a música que se ouvia). Sei que nunca, nunca mais nos voltaremos a ver.

Nenhum comentário: